Quando se senta para tomar o pequeno-almoço de manhã, provavelmente não pensa como é que os cereais são fabricados ou como o sumo de laranja é engarrafado. É mais provável que esteja a ver notícias ou a planear o seu dia. Mas há um problema mesmo à sua frente.
Trata-se da indústria alimentar global: um sistema gigantesco, intensivo em recursos e assustadoramente complexo de quintas, fábricas, fabricantes e cadeias de abastecimento. Além de fornecer os flocos de milho e leite, o sistema alimentar é responsável por cerca de 30% das emissões globais de gases com efeito de estufa, enquanto a indústria agrícola é responsável por aproximadamente 70% da retirada de água doce do mundo.
Segundo o Banco Mundial, a produção agrícola terá de aumentar 50% até 2050 para alimentar a crescente população mundial; o programa Oxford Future of Food, por sua vez, observa que os produtores de alimentos terão de alcançar este aumento dramático consumindo menos recursos. Estes são desafios pouco apetitosos, e seria compreensível que pensasse em problemas menos complicados durante a sua refeição matinal. Porém, o facto é que os métodos de produção em que o sistema alimentar se baseia estão a causar danos ambientais, tornando mais difícil para a humanidade alimentar-se a longo prazo.
Felizmente, os governos e os produtores estão a implementar uma série de estratégias para aumentar a sustentabilidade do sistema alimentar mundial, incluindo uma diligência devida mais rigorosa nas cadeias de abastecimento, redução do uso de pesticidas e investimentos na produção de fertilizantes sustentáveis. Esta é uma tarefa de escala mundial que exige a participação para além do domínio das políticas e, de facto, para além da própria indústria alimentar.
Um bom exemplo disto é a Nestlé, a maior empresa de alimentos e bebidas do mundo, com sede na Suíça e com mais de 2000 marcas. Os riscos de desflorestação, associados à contínua expansão agrícola, trazem impactos ambientais e sociais, afetando tanto as operações da empresa como o ambiente em geral. Para enfrentar estes problemas, a agricultura regenerativa tornou-se um pilar da estratégia de Neutralidade Carbónica da empresa.
Neste panorama, os investidores podem fazer a diferença na mobilização direcionada de capital, podendo desempenhar um papel significativo em equipar, capacitar e aumentar os produtores sustentáveis do futuro, bem como em reorientar economias inteiras para práticas que são cruciais para garantir a viabilidade contínua do abastecimento alimentar. Além de alocar capital a empresas jovens que utilizam novas tecnologias entusiasmantes, os investidores podem ajudar os produtores de alimentos estabelecidos a ajustar as políticas e técnicas de fabricação existentes.
Os fornecedores de alimentos mais antigos enfrentam uma situação semelhante à dos operadores da indústria energética: os modelos sobre os quais os seus negócios se desenvolveram e cresceram são, em muitos casos, inadequados para as economias de baixo carbono que agora sabemos serem necessárias. Os gestores de ativos têm também um papel importante para que seja possível transformar as práticas agrícolas atuais, com o objetivo de aumentar a transparência na cadeia de abastecimento, permitir a biodiversidade, melhorar a saúde do solo e, ao mesmo tempo, garantir a segurança alimentar a longo prazo. Tanto os investidores institucionais como os privados têm aqui um poder concreto: podemos recompensar as empresas que levam a sustentabilidade a sério e influenciar ou desinvestir daquelas que não cumprem a sua parte.