Jeremy Anagnos | Gestor de Carteira da Estratégia Global Sustainable Listed Real Assets da Nordea Asset Management
Os problemas ambientais e sociais desafiam cada vez mais as cidades. Os ativos sustentáveis de infraestrutura e imobiliário têm um papel essencial em solucioná-los e, por isso, são vitais na política climática de qualquer país.
Na Europa, o setor da construção civil é responsável por cerca de 37% das emissões de CO2 relacionadas com a energia e processos relacionados, seguido dos transportes, que são responsáveis por cerca de um quarto das emissões totais de gases com efeito de estufa, segundo a Agência Europeia do Ambiente. A nível global, a situação é desoladora: as infraestruturas e os bens imobiliários são responsáveis por metade das emissões globais de carbono.
Considerando que os ativos reais são parte integrante dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável relativos às “Cidades e Comunidades Sustentáveis”, e que os eventos climáticos extremos como inundações, secas e incêndios florestais, estão a tornar-se cada vez mais frequentes, e por isso não há outra alternativa que não seja adaptar e investir na sustentabilidade – uma causa para a qual os ativos reais estão bem posicionados. A boa notícia é que as emissões de gases com efeito de estufa podem ser substancialmente reduzidas com a crescente utilização de tecnologias inovadoras – e muito progresso já foi feito nesta área.
As cidades precisam de se tornar mais inteligentes, utilizar a energia de uma forma mais eficiente, e perceber quais as necessidades da sociedade. O setor imobiliário e das infraestruturas sustentáveis está a liderar o caminho e a investir fortemente em iniciativas como a instalação de parques solares, a modernização de linhas de transmissão e a melhoria da eficiência energética em edifícios. No total, os ativos reais sustentáveis compõem quase três quartos do capital gasto para iniciativas globais de descarbonização e, ao longo das próximas três décadas, estes investimentos poderão totalizar mais de 130 biliões de dólares. Para os ativos reais sustentáveis, que são conhecidos por retornos regulados ou contratualizados, este investimento crescente deverá levar a maiores fluxos de caixa para empresas e dividendos para investidores.
Um exemplo é a EDP – Energias de Portugal, uma empresa portuguesa de eletricidade, com sede em Lisboa. A empresa está a ampliar o seu compromisso com a transição energética e a acelerar o seu crescimento sustentável ao impulsionar as energias renováveis, reforçar a sua posição nas redes eléctricas e apoiar os clientes na descarbonização. A EDP estabeleceu uma meta de zero emissões líquidas até 2040. Entretanto, as metas da empresa para 2030 incluem 100% da capacidade instalada e a produção de electricidade será renovável, 98% de redução da intensidade de emissões de CO2eq (face a 2015), 50% dos clientes EDP a comprar serviços de produtos sustentáveis, redes 100% inteligentes em todo o mundo e 100 mil pontos de carregamento de veículos elétricos instalados.
A oportunidade de investimento sustentável é real para os investidores, e esta tornando-se especialmente apetecível com a resiliência dos ativos reais num mundo cada vez mais incerto. Estes estão no centro das necessidades da sociedade – habitação, energia, transporte, e comunicações – onde a procura costuma ser constante e fiável. Se as condições económicas piorarem, os investidores deverão encontrar conforto nestes ativos e no seu potencial para um bom desempenho durante períodos de maior stress no mercado.
Resiliência à inflação e retorno crescente
Além disso, a grande maioria dos ativos reais tem a capacidade de transmitir os aumentos de preços para os seus clientes. Isto permite que tenham um desempenho historicamente superior ao das ações globais durante períodos de inflação acima da média. Nos últimos 15 anos, numa perspetiva de retorno total, os atuais líderes sustentáveis têm proporcionado retornos anuais de cerca de 10 por cento, superando tanto os ativos reais mais gerais como as ações globais, sendo que também o conseguiram com menos volatilidade.
Em comparação com as obrigações, os ativos reais sustentáveis parecem ainda mais promissores: enquanto os cupões de rendimento fixo podem ser estáticos, os dividendos dos ativos reais sustentáveis estão a crescer, impulsionados por fluxos de caixa que se prevê que cresçam cerca de 5%. Num possível regime de mercado em que os rendimentos recorrentes poderão vir a ser mais valorizados do que em anos anteriores, os ativos reais sustentáveis apresentam-se como capital de rendimento para os investidores.
Ativos reais sustentáveis: para cidades inteligentes e investidores
Considerando que 60% das emissões globais produzidas nas cidades, onde reside metade da população mundial, e que os ativos reais são essenciais para o investimento sustentável, os ativos reais sustentáveis deverão estar no centro do desenvolvimento das cidades inteligentes. Esta crescente oportunidade de investimento pode abordar objetivos sociais e alcançar os dos investidores – impulsionado por uma classe de ativos com fluxos de caixa resilientes que oferecem proteção contra a inflação e rendimento crescente. Enquanto olharmos para o futuro, vemos que os ativos reais sustentáveis são um instrumento que tanto pode ser eficaz para as cidades inteligentes, como para os investidores.